O Mães pela Diversidade é um grupo de familiares de pessoas LGBTI que se uniram para enfrentar a discriminação com base em orientação sexual, identidade de gênero e condição sexual. Presente em quase todos os estados do Brasil, a iniciativa oferece apoio e informação para os pais e mães de lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, travestis e intersexo. Para os filhos e filhas, o movimento é um lugar de acolhimento, afeto e ajuda, quando se veem incompreendidos ou rejeitados por quem deveria ser o primeiro reduto de entendimento: as suas próprias famílias. Embora o grupo esteja aberto também aos pais, as mães compõem a maioria dos integrantes.
No mês de orgulho LGBTIQ+ tivemos a honra de conversa com duas dessas mães para o nosso
Boletim Mensal. Como não cabe toda a conversa no boletim, uma desta conversa com Celina, segue integra a baixo, já a conversa com a Clélia foi para a nossa edição n° 83 de boletim.
O boletim da #CampanhaAna edição de n° 83 Leia aqui
Campanha ANA: Celina, fale um pouco sobre vocês, lutas, trajetórias questões profissionais, sonhos enfim, o que desejar compartilhar.
Celina Batista: Sou professora, com formação em Pedagogia. Hoje aposentada pela Rede Municipal de BH. Foram 32 anos entre o Ensino Fundamental, EJA e Alfabetização de Adultos. Sempre na rede pública e em comunidades. Sempre estive na luta pela educação e a valorização dos profissionais. As greves e as batalhas sempre fizeram parte da minha vida e trabalhando em comunidades convivi com todos os tipos de violência e exclusão sofrida pelos membros da comunidade. Essas vivências contribuíram muito para minha postura profissional bem como posicionamentos por direitos e cidadania. Sempre acreditei no poder de transformação pela educação.
Campanha ANA: Celina, você como mães de pessoas LGBTI+. Como foi para você se descobrir Mães pela Diversidade e o que as trouxe para esse movimento de afirmação?
Celina Batista: Como educadora e com toda a trajetória da minha vida não tive problema algum quando meu filho se assumiu gay. Criei meus filhos (tenho mais um filho e uma filha e duas entradas) para serem boas pessoas. Criei os filhos e as filhas com as mesmas normas, o respeito e a responsabilidade são valores muito importantes para mim. Cada um teve a liberdade de escolher seus
caminhos. Amo meus filhos e nada muda isso. Entrei para o mães , num primeiro momento ,por que gosto de estar em movimentos e meu filho me falou do Mães. Mas logo percebi o quão importante é o acolhimento e a luta pelos direitos do meu filho. Mãe tem um peso, nos posicionamos na frente para defender nossas crias. Aqui também me vi mãe de todos e que a luta era diária e tinha que ter a força da união.
Campanha ANA: Diante de um contexto opressor, de negação de direitos e em que a “norma” obriga ao não reconhecimento da existência e representatividade da pessoa LGBTQ+, é possível ter e construir orgulho LGBTQI+?
Celina Batista: Claro que sim. O momento é difícil e precisamos ser firmes nessa construção. São nesses períodos que precisamos estar mais unidos que nunca, para que um ampare o outro. Ninguém vai voltar para o armário, nem os filhos e nem as mães.
Campanha ANA: A missão das Mães pela Diversidade é tirar famílias da população LGBTQI+ do “armário”. O que quer dizer isso na pratica e como vocês vem percebendo o avanço deste movimento?
Celina Batista: Fazemos plantão de acolhimentos no CRJ às segundas das 18h as 19:30h , no sábado de 10h às 12h. As mães chegam até nós de várias formas. Trazidas pelos filhos. De ouvirem falar. De
verem nas redes sociais. Sabemos que quando nos procuram querem falar, expor seus sentimentos e angústias e por isso é necessário ouvir para depois expor nossas trajetórias e levá-la a perceber que existem muitas famílias como a dela. Diante da nova situação política, muitas famílias ficaram assustadas e preocupadas com a segurança de seus filhos. O movimento do Mães com este acolhimento e a pauta de luta coletiva atua como amparo e força para estas famílias.
Myriam sempre diz que quando olhamos para frente vemos mães lutando, quando olhamos para trás vemos mães chegando e quando olhamos para os lados percebemos que a nossa caminhada não é solitária. Sei que a segurança do meu filho depende do amor e da luta de todas as mães.
Campanha ANA: TODXS Núcleo – Centro de Pesquisa em Políticas Públicas LGBTI+, através do seu aplicativo (TODEX APP) conseguiu traçar uma mostra significativa sobre as violências cometidas com as pessoas LGBTI+ no País. Segundo a pesquisa lançada em maio de 2019, foi possível perceber que dois tipos de violência, falada (33,3%) e humilhação (18.4%), juntas somam mais da metade das denúncias recebidas. Diante desta constatação, o que vocês apontam como elementos que de forma simbólica “autoriza” essas violências?
Celina Batista: Vivemos numa sociedade machista, heteronormativa e isso por si só já seria suficiente para a autorização de tais agressões. Mas, ainda temos as posturas religiosas fundamentalistas que
agravam bastante a situação, além de termos um governante que com suas falas autoriza cidadãos comuns a esses ataques.
Campanha ANA: Ainda segundo a pesquisa, as violências se dão em estabelecimentos (lojas, shopping centers, mercados, escolas públicas e privadas, local de trabalho, igreja, museu e hospital), 54,1% dos casos. E 23,6% em espaços públicos (lugares abertos, via pública, avenidas, praças, etc). Os locais domésticos ocupam 14,6%, como condomínio e residência, e, por último, os ambientes virtuais 7,6%, representado pelas redes sociais e aplicativos de relacionamento. Com incidência maior de pessoas (violadores) que não tem relações (desconhecidas) com as vítimas. O que vocês sugerem para tornar esses espaços e pessoas mais comprometidos com a defesa dos direitos LGBTI+?
Celina Batista: Para mim só o conhecimento e o entendimento pode mudar atitudes. Precisamos manter a luta para que as escolas possam ampliar tais discussões. Temos que agir no hoje, mas também pensar nas futuras gerações. É importante ocupar todos os espaços com debates, palestras, rodas de conversa para levarmos este conhecimento e desconstruir discursos preconceituosos e de ódio e para isso precisamos nos empoderar para termos argumentos claros, por que precisamos falar para os que estão fora do universo LGBTQI+
Campanha ANA: Porque é importante que as famílias se envolvam na defesa das pessoas
LGBTTQI+ e quem mais precisa se implicar nessa defesa?
Celina Batista: Porque precisamos garantir o direito dessas pessoas serem, existirem e amarem. A família é a base da sociedade e precisa entender seu papel na construção de um mundo mais humano. Defender o público LGBTQI+ é defender o direito à vida.
Campanha ANA: Quando as famílias percebem que as crianças e adolescentes não se enxergam na heteronormatividade, quais podem ser os caminhos e ações que elas podem fazer para apoiar?
Celina Batista: Nenhuma família é preparada para ter um filho LGBTQI+ e quando eles nascem também não sabemos, recebemos um bebê que tem sua identidade determinada pelos órgãos genitais que apresenta. Os pais amam aquele bebê é isto que deve prevalecer em qualquer tempo. Eu acredito que a maior demonstração de apoio é o amor. Deixe o filho ou filha saber que tem em seus pais um porto seguro e que estão ali. Acolher , dar carinho e colo. Se há dificuldade para entender procure ajuda para compreender. Porque como já afirmei , o desconhecimento pode levar a atitudes erradas. Não imponha nada aos filhos e filhas. Eles têm o tempo deles. Assim como nós, os pais, precisamos ter o nosso.
Campanha ANA: De que maneira, vocês acreditam que as organizações sociais e governamentais podem contribuir com a luta e efetivação dos direitos das pessoas LGBTI+ ?
Celina Batista: Na cobrança de ações efetivas em todas as áreas e instâncias. Precisamos de políticas que garantam o acesso e permanência nas escolas. Cobrar a atuação de empresas públicas e privadas
contra a discriminação e o preconceito no ambiente de trabalho.É preciso divulgar as empresas que levam a questa da diversidade a sério. É necessário dar uma atenção especial aos LGBTQI + em situação de rua, por que são duplamente marginalizados. Os trabalhos de assistência devem respeitara identidade de gênero e orientação sexual dessas pessoas. As organizações tem uma papel importante no esclarecimento à sociedade. É preciso manter fóruns e debates com o objetivo de atingir cada vez mais pessoas que se tornem capazes de espalhar o respeito garantindo os direitos dos LGBTQI + como cidadãos que são.
Celina Batista: Sou professora, com formação em Pedagogia. Hoje aposentada pela Rede Municipal de BH. Foram 32 anos entre o Ensino Fundamental, EJA e Alfabetização de Adultos. Sempre na rede pública e em comunidades. Sempre estive na luta pela educação e a valorização dos profissionais. As greves e as batalhas sempre fizeram parte da minha vida e trabalhando em comunidades convivi com todos os tipos de violência e exclusão sofrida pelos membros da comunidade. Essas vivências contribuíram muito para minha postura profissional bem como posicionamentos por direitos e cidadania. Sempre acreditei no poder de transformação pela educação.
Campanha ANA: Celina, você como mães de pessoas LGBTI+. Como foi para você se descobrir Mães pela Diversidade e o que as trouxe para esse movimento de afirmação?
Celina Batista: Como educadora e com toda a trajetória da minha vida não tive problema algum quando meu filho se assumiu gay. Criei meus filhos (tenho mais um filho e uma filha e duas entradas) para serem boas pessoas. Criei os filhos e as filhas com as mesmas normas, o respeito e a responsabilidade são valores muito importantes para mim. Cada um teve a liberdade de escolher seus
caminhos. Amo meus filhos e nada muda isso. Entrei para o mães , num primeiro momento ,por que gosto de estar em movimentos e meu filho me falou do Mães. Mas logo percebi o quão importante é o acolhimento e a luta pelos direitos do meu filho. Mãe tem um peso, nos posicionamos na frente para defender nossas crias. Aqui também me vi mãe de todos e que a luta era diária e tinha que ter a força da união.
Campanha ANA: Diante de um contexto opressor, de negação de direitos e em que a “norma” obriga ao não reconhecimento da existência e representatividade da pessoa LGBTQ+, é possível ter e construir orgulho LGBTQI+?
Celina Batista: Claro que sim. O momento é difícil e precisamos ser firmes nessa construção. São nesses períodos que precisamos estar mais unidos que nunca, para que um ampare o outro. Ninguém vai voltar para o armário, nem os filhos e nem as mães.
Campanha ANA: A missão das Mães pela Diversidade é tirar famílias da população LGBTQI+ do “armário”. O que quer dizer isso na pratica e como vocês vem percebendo o avanço deste movimento?
Celina Batista: Fazemos plantão de acolhimentos no CRJ às segundas das 18h as 19:30h , no sábado de 10h às 12h. As mães chegam até nós de várias formas. Trazidas pelos filhos. De ouvirem falar. De
verem nas redes sociais. Sabemos que quando nos procuram querem falar, expor seus sentimentos e angústias e por isso é necessário ouvir para depois expor nossas trajetórias e levá-la a perceber que existem muitas famílias como a dela. Diante da nova situação política, muitas famílias ficaram assustadas e preocupadas com a segurança de seus filhos. O movimento do Mães com este acolhimento e a pauta de luta coletiva atua como amparo e força para estas famílias.
Myriam sempre diz que quando olhamos para frente vemos mães lutando, quando olhamos para trás vemos mães chegando e quando olhamos para os lados percebemos que a nossa caminhada não é solitária. Sei que a segurança do meu filho depende do amor e da luta de todas as mães.
Campanha ANA: TODXS Núcleo – Centro de Pesquisa em Políticas Públicas LGBTI+, através do seu aplicativo (TODEX APP) conseguiu traçar uma mostra significativa sobre as violências cometidas com as pessoas LGBTI+ no País. Segundo a pesquisa lançada em maio de 2019, foi possível perceber que dois tipos de violência, falada (33,3%) e humilhação (18.4%), juntas somam mais da metade das denúncias recebidas. Diante desta constatação, o que vocês apontam como elementos que de forma simbólica “autoriza” essas violências?
Celina Batista: Vivemos numa sociedade machista, heteronormativa e isso por si só já seria suficiente para a autorização de tais agressões. Mas, ainda temos as posturas religiosas fundamentalistas que
agravam bastante a situação, além de termos um governante que com suas falas autoriza cidadãos comuns a esses ataques.
Campanha ANA: Ainda segundo a pesquisa, as violências se dão em estabelecimentos (lojas, shopping centers, mercados, escolas públicas e privadas, local de trabalho, igreja, museu e hospital), 54,1% dos casos. E 23,6% em espaços públicos (lugares abertos, via pública, avenidas, praças, etc). Os locais domésticos ocupam 14,6%, como condomínio e residência, e, por último, os ambientes virtuais 7,6%, representado pelas redes sociais e aplicativos de relacionamento. Com incidência maior de pessoas (violadores) que não tem relações (desconhecidas) com as vítimas. O que vocês sugerem para tornar esses espaços e pessoas mais comprometidos com a defesa dos direitos LGBTI+?
Celina Batista: Para mim só o conhecimento e o entendimento pode mudar atitudes. Precisamos manter a luta para que as escolas possam ampliar tais discussões. Temos que agir no hoje, mas também pensar nas futuras gerações. É importante ocupar todos os espaços com debates, palestras, rodas de conversa para levarmos este conhecimento e desconstruir discursos preconceituosos e de ódio e para isso precisamos nos empoderar para termos argumentos claros, por que precisamos falar para os que estão fora do universo LGBTQI+
Campanha ANA: Porque é importante que as famílias se envolvam na defesa das pessoas
LGBTTQI+ e quem mais precisa se implicar nessa defesa?
Celina Batista: Porque precisamos garantir o direito dessas pessoas serem, existirem e amarem. A família é a base da sociedade e precisa entender seu papel na construção de um mundo mais humano. Defender o público LGBTQI+ é defender o direito à vida.
Campanha ANA: Quando as famílias percebem que as crianças e adolescentes não se enxergam na heteronormatividade, quais podem ser os caminhos e ações que elas podem fazer para apoiar?
Celina Batista: Nenhuma família é preparada para ter um filho LGBTQI+ e quando eles nascem também não sabemos, recebemos um bebê que tem sua identidade determinada pelos órgãos genitais que apresenta. Os pais amam aquele bebê é isto que deve prevalecer em qualquer tempo. Eu acredito que a maior demonstração de apoio é o amor. Deixe o filho ou filha saber que tem em seus pais um porto seguro e que estão ali. Acolher , dar carinho e colo. Se há dificuldade para entender procure ajuda para compreender. Porque como já afirmei , o desconhecimento pode levar a atitudes erradas. Não imponha nada aos filhos e filhas. Eles têm o tempo deles. Assim como nós, os pais, precisamos ter o nosso.
Campanha ANA: De que maneira, vocês acreditam que as organizações sociais e governamentais podem contribuir com a luta e efetivação dos direitos das pessoas LGBTI+ ?
Celina Batista: Na cobrança de ações efetivas em todas as áreas e instâncias. Precisamos de políticas que garantam o acesso e permanência nas escolas. Cobrar a atuação de empresas públicas e privadas
contra a discriminação e o preconceito no ambiente de trabalho.É preciso divulgar as empresas que levam a questa da diversidade a sério. É necessário dar uma atenção especial aos LGBTQI + em situação de rua, por que são duplamente marginalizados. Os trabalhos de assistência devem respeitara identidade de gênero e orientação sexual dessas pessoas. As organizações tem uma papel importante no esclarecimento à sociedade. É preciso manter fóruns e debates com o objetivo de atingir cada vez mais pessoas que se tornem capazes de espalhar o respeito garantindo os direitos dos LGBTQI + como cidadãos que são.