Via Portal Geledés
A população negra corresponde a mais
da metade dos brasileiros: 54%, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe,
200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a
Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa
população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais
pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.
Por Helô
D’Angelo Do Revista Cult
Quando
se trata nas mulheres negras da região, a situação é ainda mais
alarmante. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos
25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América
Latina e no Caribe.
Em
um contexto de tanta violência, mulheres negras negras são mais vítimas de
violência obstétrica, abuso sexual e homicídio – de acordo com o Mapa da
Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no
Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013 (enquanto os casos com
vítimas brancas caíram 10%).
Barradas
dos meios de comunicação, dos cargos de chefia e do governo, elas
frequentemente não se vêem representadas nem nos movimentos feministas de seus
países. Isso porque a desigualdade entre mulheres brancas e negras é
grande: no Brasil, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a
pesquisa Mulheres e Trabalho, do IPEA, publicada em 2016. Há 25 anos, um grupo
decidiu que uma solução só poderia surgir da própria união entre mulheres
negras.
Em
1992, elas organizaram o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e
Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, em que discutiram sobre
machismo, racismo e formas de combatê-los. Daí surgiu uma rede de mulheres que
permanece unida até hoje. Do encontro, nasceu também o Dia da Mulher Negra
Latina e Caribenha, lembrado todo 25 de julho, data que foi reconhecida pela
ONU ainda em 1992.
No Brasil – que tem o maior índice de
feminicídios na América Latina -, a presidenta Dilma Rousseff transformou a
data em comemoração nacional. Aqui, desde 2014, comemora-se em 25 de julho o
Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra – em homenagem
à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma
emboscada.
Esposa
de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato
Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata:
criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o
plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram
vendidos nas vilas próximas.
Assim
como o Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de março), o 25 de Julho
não tem como objetivo festejar: a ideia é fortalecer as organizações voltadas
às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua
luta e pressionando o poder público.
Por
isso, no Brasil, no Caribe e na América Latina em geral, diversos eventos de
protesto e luta estão sendo planejados para marcar a data. Em São Paulo, em
Brasília e no Rio de Janeiro, por exemplo, acontecem Marchas das Mulheres
Negras na terça (25) – eventos que já chegaram a agregar trinta mil pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário