quarta-feira, 16 de julho de 2014

A mulher negra, que resiste e luta.



Enegrecendo o feminismo:

Nosso feminismo busca evidenciar as distinções entre os gêneros, pois não existe uma única categoria “mulher”. A negação de nossas diferenças mantém as opressões das quais somos as principais vítimas. Nós mulheres negras ainda somos relegadas à posição de subalternidade. Mesmo possuindo uma antiga história de lutas contra opressões e violências, frutos não só do machismo, mas também do racismo, praticado inclusive pelas mulheres brancas, as mulheres negras ainda não conseguem que suas pautas sejam problematizadas enquanto pautas do movimento feminista.

Diante disso, ressaltamos a importância da implementação do dia 25 de julho como o dia da mulher negra latino americana e afro-caribenha e dia da mulher negra Teresa de Benguela. Acreditamos que essa data seja importante para o resgate da identidade e empoderamento da mulher negra, para incidir e fomentar as politicas públicas que possam promover as mulheres negras o acesso a cidadania.

No que concerne às questões envolvidas na noção de direitos sexuais e reprodutivos, por exemplo, apontamos que, para além das especificidades da reivindicação do direito ao aborto gratuito, legal e seguro. Pensar no direito a maternidade das mulheres negras implica também, o direito de não ser submetida às políticas públicas de controle de natalidade de viés eugenista. E, ainda, há outro aspecto, quando optam pela maternidade, o fazem sob a ameaça de verem seus filhos assassinados pela fome, pelo atendimento precário a saúde da criança e pelas políticas governamentais de segurança pública que apresentam como um de seus resultados mais perversos, o genocídio da população jovem negra.
Por fim, compreendemos a necessidade do dia 25 de julho como um dia histórico da luta da mulher negra, que resiste e luta.

Salve Teresa de Benguela e todas as guerreiras negras!





Bloco das Pretas: resgate da identidade da Mulher Negra.

O Bloco das Pretas é uma frente feminista do CEN (Coletivo de Estudantes Negros) e, se originou em 2013, em Belo Horizonte, Minas Gerais, diante a necessidade de se ter um espaço exclusivo e de empoderamento das mulheres negras que o compunham, pois mesmo em um espaço de militância negra, o machismo ainda permeia nossas relações. Não foi pensado, contudo, como um espaço de dissociação dos homens negros, pelo contrário, acreditamos que estamos em conjunto com os companheiros negros em um processo continuo de desconstrução do machismo. O Bloco foi uma resposta à percepção de que nossa luta política se constrói na compreensão da interseccionalidade de gênero, raça e classe. Constituímo-nos enquanto mulheres periféricas, que lutam por sua sobrevivência e de sua comunidade e nos colocamos contra o encarceramento e o extermínio da juventude negra. Acreditamos e valorizamos na multiplicidade, enquanto mulheres, héteros, lésbicas, bissexuais, em maioria negras e pobres. Por meio de nossas vozes, denunciamos o racismo, o machismo e as diversas opressões de gênero, de cunho religioso e cultural.

Nosso intuito é de compor uma luta completa pela descolonização do pensamento do feminismo burguês, do conhecimento, do discurso, via o empoderamento das mulheres negras. Acreditamos que a valorização de nossas matrizes afro-brasileiras são as ferramentas necessárias para refletirmos acerca das dominações as quais nós, negras, estamos submetidas. Nos colocamos no papel de denuncia contra o racismo institucional, e usamos a organização coletiva como estratégia de enfretamento contra as estruturas que nos esmagariam se nos colocássemos diante delas como personagens isoladas. Afirmamos o valor de nossa cultura, de nossos saberes, e, quando fazemos isso, buscamos resgatar, demarcar e dar visibilidade a significativa participação das mulheres negras na história de nosso povo, como forma de resistência ao domínio patriarcal. Estamos relendo e reescrevendo a história reivindicando o devido lugar daquelas que são sempre esquecidas na construção e rememoração dos ícones. Buscamos dar visibilidade à mulher negra, como sujeitos de valor nos espaços da arte e da cultura, da produção de saber, da luta política, e expressão de beleza.



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